terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Argumentação - 6º ano

A argumentação é uma estratégia textual difícil de ser operacionalizada. Estava trabalhando com uma turma de 6º ano e havia escolhido uma pequena polêmica extraída da realidade deles, o tema era "funk é arte?". No entanto, não conseguia fazê-los perceber o ato de argumentar, pois estavam mais preocupados impor a própria opinião (e não ouvir a do outro), do que na estratégia utilizada para tal. Não havia modo de fazer alguns enxergarem o argumento oposto  como viável ou racional, porque simplesmente gostavam ou não de funk.  Por isso, para ajudar a fazer os alunos do 6º ano "perceberem" a necessidade de se demonstrar um argumento, montei o seguinte plano.

1º- Selecionei uma experiência de ciências bem simples, na qual colocamos uma agulha com uma pinça em copo de água.

(Experiências científicas são ótimos recursos para visualização não apenas de fenômenos naturais, mas também de ações, por exemplo, nesse caso usei uma experiência científica não para demonstrar a tensão superficial, mas para mostrar a necessidade de fundamentar sua opinião com conhecimento sobre o assunto)

2º - Ao preparar o material e a turma para experiência em sala, eu disse o que ia fazer e pedi que anotassem o que eles acreditavam que aconteceria, isto é, que produzissem o primeiro passo de um argumento, a tese, mas que eu prefiro chamar de crença.

(Interessante notar que eles já haviam estudado sobre água em ciências e já haviam visto o conceito de tensão superficial, mas muitos não conectaram o conhecimento de ciências que possuíam ao fenômenos apresentado "descontextualizado", pois afinal de contas - devem ter pensado - estavam em uma aula de redação)

3º - Só depois eu realizei a experiência. Então pedi que comparassem o resultado da experiência com o que tinham escrito antes. Alguns tinham acertado, outros errado. Aqueles que acertaram, em geral,  já conheciam a experiência anteriormente (lembraram da aula de ciências). A partir daí, eu tinha uma situação concreta onde pude trabalhar a diferença entre hipótese e opinião (hipótese é "eu acho" por pura imaginação, opinião " eu acho, porque sei que...")

(a experiência nesse caso foi muito importante porque criou uma situação em que a diferença entre hipótese e opinião tornou-se clara, concreta, para as crianças, pois nesse caso explicar a diferença entre dois conceitos foi explicar o que foi que eles tinham acabado de fazer)

4º - Pedi então para os alunos que haviam dado hipóteses, se eles estavam satisfeitos com a demonstração, se a partir de então eles acreditariam piamente que toda vez que a agulha fosse colocada na água ela flutuaria (e pedi aos que haviam acertado que guardassem o segredo!). Alguns disseram que sim outros não, e alguns manifestaram o desejo de ver de novo. Ao fazer pela segunda vez, propositalmente fiz com que a agulha afundasse.

Alguns,  então, concluíram que não havia resposta correta, então, que poderia acontecer uma coisa ou outra, mas alguns, que já sabiam a causa para a agulha flutuar citaram o conceito de "tensão superficial" que tinham visto na aula de ciências, por isso a agulha boia, mas as vezes, ela funda, pois ela "fura" tensão. A partir de então,  eu pude provar para os alunos que  uma crença  ou uma opinião só tem validade se estiver fundamentada, se tiver um conhecimento que a comprove.

(nesse caso ao fazer a experiência dar errado criei uma polêmica bem concreta, bem real, para que pudessem perceber que sem o conhecimento prévio de ciências, eles não criariam uma ideia, uma opinião convincente)

5º Para finalizar, dividi a turma em grupos e entreguei em segredo uma pequena experiência envolvendo outros fenômenos físicos da água para cada grupo, pedindo que guardassem segredo sobre elas e que preparassem para apresentá-las na próxima aula, quando, então, eu repeti com eles todos o processo de 1 a 4, mas agora cada grupo explicava por conta própria o fenômeno cientificamente.

(e assim fixei os conceitos e o exercitei por repetição a criação de parágrafos argumentativos com tese e argumento)


Alunos anotando suas hipóteses depois de explicado o que seria feito


Alunos fazendo a demonstração
Alunos fazendo as anotações da explicação científica dada pelo colega, para construírem posteriormente parágrafos argumentativos.




*Imagens editadas para preservar a imagem dos alunos.



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