Inversão dos valores sociais

            Um professor de biologia de uma escola particular na Bahia reverteu a hostilidade dos alunos após discursar por uma hora com olho sangrando depois de ter sido atingido por um azulejo atirado por um aluno.

            "Meu primeiro contato com os estudantes foi por meio de um azulejo azul, arremessado por um aluno do 3º ano em meu primeiro dia de aula. Fui atingido acima do olho esquerdo e lembro de ter sangrado muito.

           Fiquei esse tempo inteiro sangrando e discursando sobre o ocorrido com os alunos. Tentei mostrar o lado do professor, que está ali ralando para ganhar pouco." - conta ele.

            E atos como esse, de absurda violência, expõem a dura e triste realidade enfrentada por esses respeitáveis profissionais, hoje expostos cada vez mais a atitudes desse tipo, resultantes da evidente inversão de valores que marca a sociedade nos dias atuais, onde, pessoas que eram para ser valorizadas, respeitadas e eternamente agradecidas por proporcionar que os jovens tenham um bom futuro, são agredidas, desrespeitadas e muitas vezes, ganham um salário que não lhes permite nem mesmo dar boas condições de vida às suas respectivas famílias.

Assim, devido a estes pequenos e bruscos acontecimentos, aos poucos, as pessoas vão desanimando de seu país, de onde ele nasceu. Ninguém mais consegue e nem pode tolerar essa inversão de valores, essa falta de educação e consciência das pessoas. Um profissional que dedica toda a sua vida cumprindo um papel na formação de crianças, jovens e adolescentes, nos tempos modernos têm se tornado vítimas em potencial de estudantes que saem de casa para as escolas sem terem aprendido com a família sequer, os princípios básicos de educação e de convivência em sociedade. Além de tudo, esses mesmos pais que transferem aos educadores a responsabilidade de suprir as deficiências da maioria dos lares atuais, são aqueles que endossam os abusos de seus filhos nas salas de aulas. Já que, no lugar de corrigi-los, acabam dando o péssimo exemplo da agressão pura e simples, como se isso fosse o antídoto para todos os problemas enfrentados pelos filhos, os quais eles ajudam a agravar, agindo desta maneira inaceitável.

            Diante desse quadro, cada dia mais comum nas escolas brasileiras, é o caso de se questionar: afinal, para onde vai a educação neste País? Qual será o futuro do ensino num País onde, por qualquer motivo, professores e até diretores de escolas são agredidos violentamente, ora por alunos, ora pelos seus próprios familiares?

            As respostas a questões desse tipo são, quase sempre, coisas difíceis de serem respondidas, dentro e fora das salas de aula e até mesmo nas eternas discussões do governo em busca de soluções nem sempre encontradas para tais problemas. Mas de algo certo eu sei e garanto: Elas não são boas.

           Os professores já não tem orgulho de ter essa profissão, os pais das crianças já não sonham mais em ter filhos educadores, e nem mais os filhos pedem aos pais quadros negros para brincar e querer ser futuramente um professor. Com isso, fica uma sociedade que cada vez mais quer uma vida melhor para si, e cada vez menos valoriza a educação e os profissionais responsáveis por isso, vivendo eles, cada vez mais, em demasiada ilusão.

          Contudo, para mudar esse futuro ruim que nos espera, simples atitudes como a do professor que, ao tomar uma pedrada na cara, continuou dando aula sangrando, buscando mostrar o lado do educador, já faz a diferença. Tem de se mostrar aos alunos, inicialmente, que a violência não é um modo de se impor na sociedade e dentro da sala de aula, como ele aprendera com seus pais apanhando quando fazia algo errado. E ainda, que os professores estão ali para ajudá-los, para garantir que eles tenham um futuro até melhor que o dele. Temos que nos tornar ciente, que a educação é a base para o nosso futuro e para uma sociedade, e não a violência, a qual não nos leva a absolutamente nada, além de sofrimento.

            Concluindo, a sociedade em geral precisa voltar os olhos para o que se está fazendo com o nosso presente, pois o que nele está se plantando é o que vai definir os rumos futuros. Está na hora de se exercitar a capacidade de dialogar e se, for o caso, buscar um novo modelo de sociedade que privilegie a educação e não mais a violência. Sendo que, se continuar deste modo, o que virá será catastrófico.